A incidência de doenças cardiovasculares (DCV) aumentou muito nas últimas décadas, ao ponto de se tornarem a principal causa de morte no mundo. É consenso que uma dieta saudável tem papel importante no controle dessas condições. Ademais, alguns estudos sugerem que alimentos funcionais podem ter efeitos benéficos contra vários fatores de risco associados. Nesse sentido, pesquisadores avaliaram os papéis da microbiota intestinal e da suplementação de probióticos e prebióticos no desenvolvimento de doenças cardiovasculares em uma revisão científica.
De acordo com os pesquisadores da Universidade Médica de Lublin, na Polônia, as interações complexas entre os componentes dietéticos e a microbiota intestinal e seus metabólitos foram reconhecidas como favoráveis à saúde cardiovascular. Além disso, a crescente conscientização sobre o papel do microbioma intestinal na DCV atraiu a atenção de cientistas de várias partes do mundo. “Esses cientistas estão interessados em entender o papel potencial dos probióticos como alvo de estudo, por exemplo, na prevenção da aterosclerose e de outras formas de DCV”, relatam.
Com base em relatórios disponíveis e estudos clínicos, os pesquisadores poloneses avaliaram o papel desses suplementos como componentes alimentares importantes na prevenção ou no tratamento de doenças cardiovasculares. “Alguns produtos fermentados servem como fonte de cepas probióticas. Apesar disso, muitos fatores influenciam a eficácia dos probióticos, incluindo interações de bactérias probióticas com o microbioma do hospedeiro”, relatam.
Ainda segundo os autores, as pesquisas ligam a microbiota intestinal ao desenvolvimento de várias doenças cardiometabólicas, incluindo obesidade, diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) e doenças cardiovasculares. “O microbioma, particularmente no cólon, forma um ‘biorreator’ que fermenta componentes alimentares que escaparam da digestão nas partes superiores do intestino, como proteínas, carboidratos e fibras alimentares”, explicam. Esses componentes são divididos em metabólitos ou produtos microbianos, por exemplo, ácidos graxos de cadeia curta (leia mais abaixo) e ácidos biliares secundários.
“A microbiota intestinal também pode transformar outros componentes alimentares, por exemplo, polifenóis, em formas potencialmente metabolicamente mais relevantes”, descrevem. Portanto, não é surpreendente que as alternâncias na composição da microbiota intestinal possam desempenhar um papel na manutenção do equilíbrio metabólico humano e da saúde cardiovascular.
Ação benéfica no hospedeiro
O intestino humano é o local de um microbioma particularmente rico, caracterizado por uma diversidade ecológica de microrganismos, com mais de 100 trilhões de células microbianas vivendo simbioticamente. A colonização microbiana no trato gastrointestinal começa imediatamente após o nascimento. “Em pessoas saudáveis, a microbiota vive em uma relação simbiótica com o hospedeiro, influenciando a saúde, regulando o metabolismo dos nutrientes, protegendo contra patógenos e fornecendo sinais às células imunes para melhorar a fisiologia e a imunidade”, ressaltam.
Enquanto probióticos são ‘microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde ao hospedeiro’, os prebióticos são substâncias que estimulam o crescimento desses microrganismos no intestino. Os prebióticos podem ser obtidos de várias fontes, incluindo leite materno, soja e aveia crua. No entanto, os mais populares são os oligossacarídeos vegetais. “Os prebióticos têm o potencial de melhorar a saúde humana, controlando o equilíbrio do microbioma intestinal, pois são fermentados pelas bactérias intestinais e produzem ácidos graxos de cadeia curta, por exemplo, propionato, butirato e acetato”, acentuam.
De acordo com os autores, a produção de ácidos graxos de cadeia curta tem efeitos positivos, incluindo a melhoria da integridade da membrana intestinal e absorção de minerais, redução dos níveis glicêmicos e do peso corporal. Além disso, promovem a melhoria da imunidade e modulação de biomarcadores metabólicos, cardiovasculares e inflamatórios. “Do mesmo modo, a ingestão de prebióticos favorece o crescimento de bactérias benéficas, como Lactobacillus e Bifidobacterium, que são responsáveis pela inibição da proliferação de bactérias nocivas”, sinalizam.
Para os autores, a comunidade científica deve esclarecer completamente como a microbiota nativa afeta a saúde e o bem-estar, ao mesmo tempo em que modela de forma confiável as previsões de interações de cepas probióticas e microbiota intestinal nativa. “Essa descoberta permitiria a personalização bem-sucedida da terapia prebiótica e probiótica, a duração das suplementação e a definição das dosagens ideais para os indivíduos manterem a saúde cardiovascular ou melhorarem alguma doença cardiovascular”, acreditam. O artigo ‘Role of gut microbiota, probiotics and prebiotics in the cardiovascular diseases’ foi publicado no periódico Molecules em 2021.
Dados preocupantes
As DCV envolvem o coração ou os vasos sanguíneos, e as mais frequentes são doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, doença cardíaca hipertensiva, cardiomiopatia, trombose venosa, arritmia e doença tromboembólica. Os dados são tão preocupantes que a American Heart Association (AAA) prevê que aproximadamente 43,9% de toda a população dos Estados Unidos terá DCV até 2030.