Com a utilização de processamento digital de imagens e inteligência artificial, uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC-Unicamp) resultou no desenvolvimento de um hemograma digital que possibilita fazer a contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas – principais linhagens de células sanguíneas que avaliam a saúde – em apenas cinco segundos. A técnica, que necessita apenas de um smartphone, um microscópio e um computador para ser executada, é uma alternativa viável para aplicar a informática médica na saúde pública. O objetivo é oferecer um método de diagnóstico laboratorial de baixo custo, alta confiabilidade e acesso ampliado para localidades remotas.
A primeira etapa do projeto consistiu na busca de imagens em bancos de dados on-line com boa qualidade, inclusive em relação à luminosidade e nitidez, e padrões médicos adequados a serem usados como referência. “A partir desse levantamento foi possível criar um sistema de padronização através do processamento digital de imagens”, explica a biomédica Ana Carolina Borges Monteiro, autora da pesquisa. Na sequência, utilizando inteligência artificial foram desenvolvidos os algoritmos que fazem o reconhecimento e a contagem automática das células de leucócitos, hemácias e plaquetas. Paralelamente, a pesquisadora utilizou outro banco de imagens e desenvolveu novos algoritmos para identificar cinco subtipos de leucócitos com características morfológicas de estruturas distintas, assim como a quantidade presente na amostra/imagem.
De acordo com a biomédica, através da contagem de leucócitos e da identificação do subtipo é possível, por exemplo, detectar alergias ou infecções de causa bacteriana, viral e parasitológica, auxiliando o profissional da saúde a identificar uma patologia de acordo com a tipificação celular. “Ainda que não seja possível um diagnóstico definitivo, o procedimento sinaliza a suspeita de um quadro de saúde, assim como ocorre com o hemograma tradicional”, destaca. Durante os testes, o sistema atingiu acurácia de 100% para reconhecimento dos leucócitos e hemácias (que podem identificar anemias) com processamento digital de imagens. A pesquisadora lembra que o maior desafio foi identificar as plaquetas, que auxiliam o reconhecimento de hemorragias, por serem células muito pequenas. Ainda assim, o índice ficou em torno de 90%. “A expectativa é que, com o avanço do método e com sua aplicação no dia a dia, o índice geral fique em torno de 98%”, afirma.s
Após a coleta de sangue, o profissional da saúde previamente treinado para o método aplica uma amostra na lâmina de microscopia, por meio da técnica de esfregaço sanguíneo. Na sequência, faz uma foto da lâmina usando o smartphone, com apoio de microscópio. Ao ser enviada ao computador, o processamento da imagem é feito por inteligência artificial. “Em cinco segundos, os algoritmos fazem o reconhecimento e a contagem automática das hemácias, plaquetas e leucócitos, oferecendo as principais análises realizadas pelo exame de sangue tradicional”, descreve a pesquisadora. Além de oferecer custo e tempo reduzidos, uma das principais vantagens é a possibilidade de levar a tecnologia para municípios pequenos ou áreas remotas onde vivem, por exemplo, populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas. “Portanto, o método possibilita ampliar o acesso dessas populações a diagnósticos precoces de saúde, especialmente nas localidades sem recursos para aquisição de um equipamento de análise de hemograma tradicional, aliviando o atendimento de hospitais”, acentua. •