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Games podem auxiliar a saúde

Escrito por: Elessandra Asevedo

O­­­­­s videogames já foram considerados apenas meios de entretenimento, principalmente para o público jovem. ­Entretanto, com o avanço da tecnologia e o surgimento de consoles e jogos que permitem levar o usuário para outra dimensão, essas ferramentas estão sendo usadas, cada vez mais, como recurso terapêuti­co para promover a reabilitação física e cognitiva de pacientes com diferentes condições clínicas. A modalidade é nova e está sendo apelidada de gameterapia ou exergames – quando também ­promo­ve atividades físicas. Desta forma, o uso de videogames na área da saúde tem quebrado paradigmas, porque oferece ao paciente recursos de reabilitação mais divertidos.

O início da gameterapia teve como impulso o lançamento do console Nintendo Wii, em 2006, que revolucionou o mercado de jogos com os controles sem fio e sensores de movimentos, permitindo que as ações do jogador fossem diretamente traduzidas em movimentos no jogo. “Foi uma tentativa da marca de transformar o videogame em algo ativo e, assim, ampliar o mercado que sofria com a pressão da sociedade em relação ao sedentarismo potencializado pelos jogos na tela”, explica a professora doutora Karen Valadares Trippo, docente e pesquisadora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação da Instituição. O sucesso da tecnologia presente no console incentivou um grupo canadense a criar a Wiiterapia, com foco na fisioterapia e na terapia ocupacional.

O termo gameterapia, como é mais conhecido, foi estabelecido anos mais tarde e é definido como todo processo que faz uso de jogos de vídeo e realidade virtual para trabalhar exercícios, cognição e até mesmo questões emocionais. Com aplicabilidade em diversas áreas, a técnica foi reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) em 2015. A técnica possibilita o uso em pacientes com diferentes condições físicas, emocionais e cognitivas, pois estimula a coordenação motora, o equilíbrio, o ­condicionamento cardiovascular e a atividade cerebral. Desta forma, pode ser utilizado como coadjuvante no tratamento de doenças neurodegenerativas e na melhora das habilidades motoras finas favorecendo, por exemplo, o tratamento de crianças com paralisia cerebral.

Para o professor doutor Saul Rassy Carneiro, fisioterapeuta e docente da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal do Pará (UFPA), embora chame mais ­atenção na área neurológica e ortopédica, a gameterapia também pode se estender para disfunções cardiorrespiratórias. “Rea­li­zamos trabalhos com pacientes que tiveram covid e na reabilitação de pacientes em pós-operatório de mastectomia no Ambulatório de Reabilitação Pulmonar e Oncológica do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), em Belém, e os resultados foram satisfatórios”, acentua. A Instituição também utilizou a gameterapia em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) por meio de um jogo de boxe no qual o avatar dava socos. Além de os participantes realizarem um trabalho cardiorrespiratório, extravasaram a ansiedade.

Ortopedia – A terapeuta ocupacional Sandra Helena Moura, co-coordenadora do Pro­jeto de Gameterapia do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) do Ministério da Saúde, lembra que os jogos são tão antigos quanto a civilização, com evidências do tempo dos faraós. Por ser algo que atrai o ser humano, é possível utilizar o que há de melhor ­nesta tecnologia para ajudar no tratamento tera­pêutico. “Tudo começa com o profissio­nal que utiliza a técnica para avaliar e desenvolver uma atividade ou um plano de atendimento que consiga colaborar com a evolução do paciente. No caso dos fisioterapeutas, é preciso verificar se o jogo vai ajudar no equilíbrio, na força muscular, coordenação física, motricidade e funcio­nalidade”, comple­menta o fisioterapeuta Humberto Leal, também co-coordenador do projeto do INTO.

Embora a gameterapia pareça algo divertido, cabe a cada profissional avaliar se o paciente está apto para fazer parte do projeto. Mas, de forma geral, não há contraindicação. A prática só não é indicada para pacientes com déficit visual ou cegueira, com sensibilidade ao som e à luz – como na epilepsia – e para crianças abaixo de cinco anos e que ainda podem não compreender e interagir de forma correta. “A intensidade, o tipo de jogo, se o paciente fica sentado ou em pé e a frequência também são alternativas que precisam ser avaliadas pelo profissional que vai aplicá-lo”, reforça a terapeuta.

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