Em um estudo conduzido pela disciplina de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da EPM-Unifesp – sob a coordenação do professor doutor Mauro Batista de Morais –, a médica Marcela Duarte de Sillos e outros pesquisadores avaliaram o tempo de trânsito colônico total e segmentar em crianças e adolescentes com fibrose cística, segundo a presença de constipação intestinal e impactação fecal radiológica. Com participação de 34 pacientes atendidos no Ambulatório de Fibrose Cística da Instituição, com idades que variavam entre 3 e 20 anos, os pesquisadores identificaram constipação intestinal em 44,1% das crianças e adolescentes, com predomínio nas meninas. O tempo de trânsito colônico total e o tempo de trânsito segmentar do cólon direito foram significativamente maiores no grupo de constipação intestinal associada à fibrose cística, em relação ao grupo de pacientes sem constipação intestinal.
“Nosso primeiro interesse foi confirmar o que víamos na prática clínica, que é uma maior frequência de impactação fecal e constipação intestinal em pacientes com fibrose cística. Também observamos que algumas vezes havia necessidade de uso de laxantes em doses mais altas que as utilizadas em crianças com constipação intestinal e sem fibrose cística”, relata. A médica ressalta que os critérios diagnósticos para constipação intestinal na fibrose cística são diferentes dos utilizados para pacientes sem a doença. Por exemplo, a constipação intestinal na fibrose cística pode manifestar-se por redução da frequência das evacuações e/ou consistência aumentada das fezes nas últimas semanas ou meses, e/ou dor abdominal e/ou distensão abdominal. Pacientes que apresentam melhora desses sintomas, quando submetidos a tratamento com laxante, devem ser diagnosticados com constipação intestinal segundo os critérios da European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN). De acordo com estas recomendações, a constipação intestinal poderá ser diagnosticada independentemente de o indivíduo evacuar diariamente.
A médica reforça que a constipação intestinal funcional é uma doença gastrointestinal funcional comum em pacientes pediátricos. Nestes casos, a eliminação de fezes endurecidas e de grosso calibre leva a evacuações dolorosas. Esta situação propicia o desenvolvimento de comportamento de retenção, facilitando a formação de fecaloma e gerando um círculo vicioso de perpetuação da constipação intestinal na criança. Existem dados na literatura que sugerem que pacientes que apresentam trânsito colônico mais lento no cólon direito ou intestino inteiro são aqueles que vão precisar de laxante mais tempo, em dose mais alta e, talvez, de uso prolongado ou até para sempre. “Em nosso estudo foi possível constatar que, na fibrose cística, pelo menos no grupo de pacientes avaliado, aqueles com constipação intestinal têm um tempo de trânsito colônico total e no cólon direito maior do que quem não tem constipação”, relata.