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Efeitos da poluição na microbiota nasal

Escrito por: Adenilde Bringel

A poluição atmosférica é composta pelo conjunto de matérias, gazes e partículas em suspensão no ar, gerando efeitos adversos à saúde humana. Os dados atuais indicam que 70% da população do planeta vive em ambientes poluídos. Esse contato com poluentes provoca uma resposta inflamatória que predispõe a uma série de doenças respiratórias, cardiovasculares, reumatológicas e autoimunes associadas à poluição, sendo os sistemas cardiovascular e respiratório os mais afetados. Além disso, estudos revelam que a expectativa de vida de quem habita ambientes poluídos diminui em três a quatro anos. A poluição é formada por vários componentes, mas é o material particulado – especialmente aquele dezenas de vezes menor do que um fio de cabelo, com tamanho variando de 2,5 a 0,1 milimicra –, que traz os maiores riscos. Na cavidade nasal, por exemplo, o aumento de material particulado causa um desequilíbrio na microbiota do nariz, que é distribuída por sete ambientes distintos.

Estudos recentes sugerem que os gêne­ros mais comuns nas cavidades nasais saudáveis são Corynebacterium, ­Propionibacterium, Streptococcus, ­Staphylococcus, Moraxella e Haemophilus. Entretanto, a composição e a diversidade do microbioma são muito dinâmicas e variam sob a influência de muitos fatores, como idade, doenças, tabagismo, medicamentos, ambiente e poluição. Alguns autores afirmam, ainda, que o eixo nariz-cérebro é importante no papel na modulação do sistema imunológico, na homeostase respiratória local e até mesmo na influência sobre o sistema nervoso. “Somos colonizados por trilhões de microrganismos que vão além do intestino e habitam pele, nariz, vias respiratórias, pulmão e muitos outros locais, a maioria composta por bactérias comensais. Isso talvez explique o motivo de apenas uma parcela da população desenvolver doenças, apesar do contato constante com poluentes”, afirma o professor doutor Mauro Vaisberg, docente e pesquisador do Programa de Pós-graduação da Disciplina de Otorrinolaringologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP).

Uma vez que o eixo intestino-pulmão é importante no equilíbrio do funcionamento do pulmão e das vias aéreas, o docente quer investigar se o uso de probiótico teria uma ação imunomoduladora para o equilíbrio da resposta imune e do metabolismo. De acordo com o professor Mauro Vaisberg, a poluição pode  diminuir o número de mitocôndrias – organelas intracelulares responsáveis pela produção de energia – de maneira que sua diminuição leva ao mal funcionamento de órgãos. Assim, tanto a ação imunológica como a ação metabólica do microbioma podem ser afetadas pela poluição atmosférica. “Embora o probiótico exerça uma ação direta no intestino, também vai ajudar a melhorar a microbiota nasal”, resume. Um trabalho de mestrado recentemente publicado pelo seu grupo de pesquisa constatou que a poluição provoca tanto uma reação inflamatória quanto uma reação anti-inflamatória, simultaneamente, o que mostra uma tentativa do organismo de se manter em equilíbrio.

Com o uso do probiótico, primeiro ocorre um aumento na produção de interleucina 10 (IL-10), uma molécula do sistema imunológico (citocina) com ação anti-inflamatória muito importante. Depois, o probiótico aumenta a produção de um tipo de célula T, a Treg, que tem ação reguladora do sistema imunológico para manter um equilíbrio entre inflamação e anti-inflamação. Além disso, o probiótico interage com moléculas PAMP (Pathogen Associated Molecular Pattern), iniciando uma reação inflamatória. “Entre os receptores associados a padrões estão os receptores toll-like (TLr), que se destinam a detectar vírus, bactérias e fungos. Entretanto,  dois tipos (TLr 2 e 4) detectam o material particulado, sendo ativados. Todos esses mecanismos fazem com que o indivíduo inflame com a poluição e, ao mesmo tempo, inicie uma resposta anti-inflamatória de maneira que possa tolerar a poluição”, descreve o professor.

Exercícios

A prática regular de exercício físico está associada à preservação ou melhora da saúde, mas pode sofrer influência de mecanismos neuroimunoendócrinos e fatores externos, como a poluição. Para avaliar esses efeitos, o professor Mauro Vaisberg participou de um estudo em parceria com o professor Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (USP), no qual foram avaliados 24 camundongos. Distribuídos em quatro grupos, animais sedentários e animais exercitados foram expostos à alta concentração de poluentes, enquanto animais sedentários e exercitados foram expostos ao ar ambiente. A exposição aos poluentes foi realizada no concentrador de partículas ambiental (CPA) e o treinamento físico foi realizado em uma esteira especialmente projetada. Os pesquisadores avaliaram marcadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios no sangue e lavado broncoalveolar (LBA), celularidade do LBA e tecido pulmonar. “Embora o grupo ativo exposto a uma alta concentração de poluição tenha apresentado uma maior resposta inflamatória, tanto a análise de correlação quanto a razão entre citocinas pró e anti-inflamatórias demonstraram que o grupo exercitado apresentou maior atividade anti-inflamatória, sugerindo um efeito protetor/adaptativo do exercício quando realizado em um ambiente poluído”, afirmam os autores.

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