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LcS e a imunidade de atletas de alto rendimento

Escrito por: Adenilde Bringel

Os primeiros estudos que sina­liza­ram uma baixa no sistema imunológico em atletas de alto desempenho após realizarem treina­mentos intensivos mostram que, normalmente, essa reação estaria associada com alterações tanto do perfil inflamatório quanto das imunidades mediadas por célula e humoral. Além disso, a imunidade da mucosa também fica comprometida e a secreção salivar de imunoglobulina A (IgA) secretora diminui durante períodos de atividades físicas intensas – com duração de uma semana ou mais. Um dos primeiros pesquisadores a abordar o tema foi o professor doutor Mike Gleeson, da Escola de Esporte, Exercício e Ciências da Saúde da ­Loughborough University, na Inglaterra. Em um estudo publicado em 2007, o cientista demonstrou que exercícios prolongados extenuantes causavam uma depressão temporária de vários aspectos da função imunológica, com marcante alteração da atividade de ­neutrófilos, limitada proliferação de linfócitos e menor capacidade de apresentação de antígenos por ­monócitos.

O grupo do pesquisador Mike Gleeson também foi o primeiro a desen­volver um estudo para avaliar o papel do ­Lactobacillus casei Shirota (agora Lacticaseibacillus paracasei Shirota – LcS) na incidência de infecções respiratórias. O estudo ‘Daily ­Probiotic’s (­Lactobacillus casei Shirota) reduction of ­infection incidence in athletes’, de autoria da pesquisadora Marta Oliveira, foi publicado em 2011 e envolveu 84 praticantes de diferentes modalidades esportivas de forma regular. Esses atletas realizavam treinos médios de 10 horas por semana, predominantemente atividades baseadas em endurance como corridas, ciclismo, natação, triatlo, jogos em equipe e esportes com raquetes.

O objetivo do estudo foi examinar os efeitos de um suplemento probiótico sobre a incidência de infecções do trato respiratório superior (URTI, na sigla em inglês) e marcadores imunológicos nos atletas praticantes desses esportes durante quatro meses de treinamento de inverno. No estudo duplo-cego, os resultados mostraram evidências de que a microbiota intestinal dos atletas que ingeriram o probiótico contendo LcS por 16 semanas melhorou, assim como os aspectos da resposta imune presente na mucosa. De acordo com os autores, a ingestão regular de LcS parece ser benéfica para reduzir a frequência de URTI em uma coorte atlética. Ademais, esse resultado pode estar relacionado a uma melhor manutenção dos níveis de IgA salivar durante um período de inverno de treinamento e competição.

Para confirmar os achados, pesquisadores brasileiros realizaram, em 2017, um estudo inédito desenvolvido com 42 maratonistas na cidade de São Paulo. O estudo duplo-cego, placebo controlado envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (­Unifesp) em parceria com outras instituições. O  objetivo era avaliar o efeito da ingestão diária de leite fermentado contendo LcS (Yakult 40) nas respostas imunes-inflamatórias sistêmicas e das vias aéreas superiores dos atletas antes e depois de uma maratona. Os resultados mostraram, pela primeira vez na literatura, que a cepa LcS é capaz de modular as respostas ­imunes­-inflamatórias ­sistêmicas e aéreas após uma ­maratona.

O professor doutor André Bachi, da Universidade de Santo Amaro (UNISA) – que desenvolveu o estudo em conjunto com o professor doutor Mauro Vaisberg, do Departamento de Otorrinolaringologia da UNIFESP – explica que o pré-requisito da pesquisa era que todos os atletas tivessem experiência em maratonas e algum sintoma de vias aéreas superiores documentado em pelo menos uma delas. “A maratona é padrão ouro quando se fala de estudos com corredores, por ser um exercício prolongado e exaustivo em que todos são submetidos ao mesmo desafio, no mesmo tempo e sob as mesmas condições”, acentua. Durante a maratona, os atletas também ficam submetidos à mesma carga de estresse e ansiedade, porque querem melhorar o tempo e ter melhor desempenho. Por isso, é uma prova que favorece a avaliação da resposta imunológica-inflamatória.

“Embora o perfil imunológico dos grupos tenha se mostrado diferente em relação ao efeito da maratona, quem ingeriu Yakult 40 teve melhor modulação e controle inflamatório­-imunológico. Os indivíduos que apresentaram doença depois da prova e o tempo em que permaneceram doentes também foi menor”, detalha o professor. Além disso, uma análise estatística de sobrevida indicou que 25% dos atletas do grupo placebo que adoeceram tiveram manifestação e severidade da doença que os colocavam em risco, inclusive de um desfecho muito ruim. Em contrapartida, naqueles que ingeriram o LcS, tanto a manifestação quanto a severidade da doença não causavam qualquer risco.

Os resultados também mostraram que, após a maratona, o LcS manteve os níveis salivares de IgA – anticorpo que desempenha papel crucial na função imunitária das membranas das mucosas –, e de peptídeos antimicrobianos. O probiótico também aumentou os ­níveis de interleucina 10 (IL-10) nasal – uma citocina anti-inflamatória clássica – no grupo LcS, imediatamente após a maratona. Além disso, reduziu os níveis nasais de citocinas pró-inflamatórias e diminuiu a infiltração de neutrófilos nas mucosas nasais, demonstrando um efeito ­anti-inflamatório induzido pelo probiótico nas vias aéreas superiores.

Apesar de não terem avaliado as vias aéreas inferiores, os pesquisadores acreditam que existe uma grande chance de o LcS também ter um efeito benéfico nesta região, que inclui traqueia, pulmões, brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares. “O probiótico tem efeito intestinal, portanto, podemos considerar que todo o ajuste que a cepa pode ter feito no intestino repercutiu sistemicamente. Só não conseguimos medir os dados da célula NK, mas a modulação que aparentemente ocorreu sistemicamente pode ter influenciado para uma melhor atividade dessas células de defesa também”, argumenta o professor André Bachi.

Outro dado é que, nos 30 dias de ingestão do LcS, nenhum dos atletas reportou qualquer alteração evidente ou efeito que pudesse ter causado prejuízo. Entretanto, no momento da prova intensa, o probiótico teve o efeito ­esperado e mostrou que tem capacidade de ­modu­lar a resposta imune-­inflamatória. Por isso, provavelmente também pode ajudar os indivíduos que ­praticam ativida­de física regular e, eventualmente, têm um treino com maior ­intensidade. O ­artigo científico ‘Daily intake of ­fermented milk ­containing­­ ­Lactobacillus casei ­Shirota (LcS) ­modulates systemic and upper ­airways immune/inflammatory ­responses in ­marathon runners’ foi publicado em julho de 2019 na Nutrients.

Potencial modulador

No Yakult International Symposia, o professor André Bacchi abordará o efeito do ­Lactobacillus como potencial modulador da saúde do atleta e as modalidades de exercício que podem trazer algum benefício com o uso da cepa. “Desde 2019, aproximadamente 100 artigos foram publicados envolvendo Lactobacillus e performance de atletas de alto desempenho em diversas modalidades esportivas. No entanto, alguns poucos vão enfatizar o desempenho, o que reforça o ineditismo do nosso trabalho”, relata. A grande parte dos estudos também foca no efeito gastrointestinal do Lactobacillus, assim como no eixo cérebro-intestino-microbiota envolvendo aspectos de controles comportamentais e efeitos voltados à questão cerebral e neurológica. O professor afirma que é importante lembrar que cada local do corpo humano tem uma microbiota particular. E, embora o efeito do Lactobacillus comece no intestino, é preciso seguir investigando se essa repercussão intestinal pode favorecer uma resposta em outro local como as vias aéreas, por exemplo.

Novo estudo envolverá triatletas

O professor André Bachi afirma que o estudo com maratonistas mostra que, aparentemente, o efeito da presença do Lactobacillus casei Shirota no intestino foi capaz de atuar e modular as vias aéreas. “Isso tem sido pouco explorado, mas, para nós, é um campo muito promissor e tende a ser muito mais amplo no contexto geral da saúde do atleta”, argumenta. Por isso, a proposta é estudar a ação moduladora do LcS em modalidades prolongadas e extenuantes, uma vez que essas competições geram uma exaustão nos atletas – que será um fator indutor de alterações corporais. Assim, o próximo projeto do grupo vai avaliar atletas de triatlo, modalidade que também demanda um esforço intenso e semelhante ao da maratona.

Outra novidade é que, diferentemente do trabalho com maratonistas, no triatlo serão envolvidos atletas do sexo masculino e feminino. A meta é trabalhar com cerca de 80 triatletas voluntários. Primeiramente, será feita uma avaliação clínica e física. Em seguida, começará toda a avaliação de pré-ingestão do LcS aliada a uma bateria de exames e de testes. A proposta é que os triatletas comecem a ingerir o leite fermentado com ­Lactobacillus casei Shirota 30 dias antes da prova. Para este estudo, três laboratórios estarão envolvidos: UNIFESP, UNISA o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa.

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