A obesidade é um problema de saúde pública desafiador em todo o mundo. Estudos já revelaram que regiões cerebrais relacionadas ao vício, incluindo circuitos de recompensa, controle cognitivo, emocional e sensorial, contribuem tanto para a patogênese quanto para o controle de peso ao regular o comportamento alimentar. Para entender o mecanismo subjacente às mudanças da atividade cerebral durante a restrição calórica, pesquisadores investigaram os efeitos da restrição energética intermitente (IER) no eixo bidirecional cérebro-intestino-microbioma (BGM) em indivíduos obesos.
Participaram do estudo 25 adultos obesos com índice de massa corporal (IMC) variando de 28 kg/m2 a 45 kg/m2 com hipertensão, diabetes, hiperlipidemia, hiperuricemia ou síndrome metabólica bem controladas. Para investigar os efeitos da restrição energética intermitente, a dieta foi intercalada com períodos de IER e com ingestão básica de energia. Na fase I, com duração de quatro dias, os participantes tiveram dieta normal sem restrição de calorias ou alimentos. “As refeições do IER foram formuladas por um nutricionista clínico de acordo com a ingestão básica de energia de cada participante”, descrevem os autores.
Na fase II foi aplicado o jejum altamente controlado por 32 dias, sendo oito dias em cada estágio (quatro no total), em que os pacientes receberam 2/3, 1/2, 1/3 e 1/4 da ingestão básica de energia, respectivamente ao estágio. A fase III foi a de jejum pouco controlado, por um período de 30 dias. Durante esta fase, as refeições não foram fornecidas aos participantes que, em substituição, receberam uma lista de alimentos permitidos para compor uma dieta com restrição calórica no dia alternado.
Para descrever as mudanças dinâmicas induzidas por IER na atividade cerebral, os autores utilizaram ressonância magnética funcional em estado de repouso para determinar a atividade das regiões cerebrais. Já para o sequenciamento metagenômico foram analisadas amostras de fezes e sangue, coletadas antes da fase I, no ponto médio e no final da fase II, e no final da fase III. A partir desses resultados foi possível identificar microrganismos intestinais diferencialmente abundantes em amostras fecais.
Resultados
Em resumo, os pesquisadores descreveram os efeitos dinâmicos de uma intervenção de restrição energética intermitente de curto prazo – dois meses – no eixo bidirecional cérebro-intestino-microbioma em indivíduos obesos. “Através da ressonância magnética funcional observamos que o IER induziu reduções constantes e significativas na atividade de regiões cerebrais relacionadas ao comportamento alimentar. Os achados incluem o giro orbital frontal inferior direito, o córtex cingulado anterior, o córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo e o putâmen direito”, explicam os autores.
Além disso, o sequenciamento metagenômico mostrou que o IER induziu mudanças dinâmicas significativas na abundância de algumas bactérias intestinais, incluindo E. coli patogênica e microrganismos relacionados à obesidade como, por exemplo, F. prausnitzii, P. distasonis e B. uniformis. Em conclusão, os autores afirmam que as alterações da microbiota intestinal se correlacionaram com as mudanças na atividade cerebral em diferentes pontos de tempo na intervenção do IER. O resultado sugere, portanto, que a interação dinâmica entre o cérebro e a microbiota intestinal desempenha um papel importante na perda de peso. O artigo ‘Dynamical alterations of brain function and gut microbiome in weight loss’ foi publicado em dezembro de 2023 na revista Frontiers.