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O Transtorno do Espectro Autista e a microbiota

• Microbiota

Transplante de microbiota fecal em crianças com autismo

Escrito por: Elessandra Asevedo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por déficits na interação social, comportamento repetitivo e comprometimento da linguagem. A prevalência mundial tem aumentado anualmente nos últimos anos e, até agora, a patogênese permanece desconhecida. Entretanto, já está bem documentado que indivíduos com o transtorno sofrem de sintomas gastrointestinais, a exemplo de constipação e diarreia, e possuem a microbiota intestinal alterada.

O estudo chinês ‘Protocol for the safety and efficacy of fecal microbiota transplantation liquid in children with autism spectrum disorder: a randomized controlled study, ainda em andamento, tem como foco investigar a segurança e eficácia de uma formulação pediátrica de transplante de microbiota fecal (TMF) para melhorar os sintomas do TEA, bem como os transtornos gastrointestinais. O TMF envolve a transferência de microrganismos fecais de um indivíduo saudável para o trato gastrointestinal de um paciente, com objetivo de melhorar a microecologia intestinal e tratar doenças.

O ensaio de intervenção duplo-cego, randomizado e realizado em um único centro envolve 42 crianças com transtorno de espectro autista, com idades entre 3 a 9 anos. Os participantes foram atribuídos aleatoriamente em grupo de tratamento (coorte 1) ou grupo placebo. Além disso, 30 crianças saudáveis de idade e sexo semelhantes foram recrutadas como grupo controle (coorte 2).

As crianças do grupo de tratamento serão submetidas à reabilitação e TMF, enquanto o grupo controle receberá reabilitação e placebo. Todas as crianças passarão por um período de tratamento de 12 semanas após a conclusão da preparação intestinal e serão acompanhadas por 12 semanas, durante as quais receberão apenas reabilitação. “Um estudo randomizado e duplo-cego com 52 pacientes que sofrem de síndrome do intestino irritável avaliou a segurança e a eficácia das cápsulas orais de TMF, e a diarreia foi o único evento adverso estatisticamente significativo observado”, detalham os cientistas.

O estudo usa o sequenciamento metagenômico e metabolômico para avaliar mudanças na composição e estrutura da microbiota intestinal e seus metabólitos no sangue, na urina e nas fezes após o tratamento. De acordo com os cientistas, a meta também é comparar as mudanças na composição da microbiota intestinal em crianças saudáveis, assim como avaliar a segurança da formulação pediátrica de transplante e a aceitabilidade da formulação, inclusive entre os responsáveis legais dos participantes.

Metodologia

O líquido bacteriano neste estudo é dissolvido em bebidas, facilitando a deglutição por parte das crianças e aumento da aceitabilidade do tratamento. “Este será o primeiro estudo a utilizar fluidos bacterianos em três fases de tratamento, o que tem implicações significativas para o desenvolvimento futuro de aplicações clínicas do transplante em questão”, afirmam os autores.

Embora seja um estudo de ensaio clínico randomizado duplo-cego, os participantes apontam algumas limitações, como o tamanho da amostragem. Por isso, informam que será necessário realizar outros ensaios de grupos, de acordo com diferentes sintomas. Além disso, será preciso um tempo de acompanhamento mais longo para observar a duração da melhora dos sintomas e a segurança e eficácia do tratamento. “Este estudo não considerará completamente os fatores mistos que afetam a microbiota intestinal, como hábitos de vida e idade”, reforçam.

Agravamento

Sintomas gastrointestinais agravam os problemas de sono e, consequentemente, os sintomas do TEA, assim como prejudicam o equilíbrio da microbiota intestinal. Em comparação com indivíduos saudáveis, as crianças com o transtorno também tendem a ter uma deficiência de bactérias intestinais benéficas. “Além disso, há um nível mais elevado de Bacteroidetes, Firmicutes e Actinobacteria no nível do filo. No nível de gênero, tendem a ter níveis mais elevados de Prevotella, Faecali e Bacteroides, enquanto apresentam níveis mais baixos de bactérias protetoras como Akkermansia e Bifidobacterium longum”, informam os autores. O estudo foi publicado em 2023 no periódico Frontiers in Microbiology.

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