Microbiota pulmonar e disbiose intestinal

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Microbiota na doença pulmonar não tuberculosa

Escrito por: Fernanda Ortiz

As micobacterioses não tuberculosas (MNT) são microrganismos onipresentes que colonizam o solo e a água. Dos mais de 200 tipos até então identificados, apenas 40 são considerados patogênicos. O principal acometimento, em 90% dos casos, caracteriza a doença pulmonar por micobactérias não tuberculosas (DP-MNT), uma condição crônica infecciosa. Para desvendar as possíveis causas que levam ao seu desenvolvimento, recentemente o estudo ‘Alterations in lung and gut microbiota reduce diversity in patients with nontuberculous mycobacterial pulmonary diseasedescreveu que a infecção por MNT e o Índice de Massa Corporal (IMC) estão associados à diversidade da microbiota pulmonar e disbiose intestinal. De acordo com os autores, isso pode contribuir para a patogênese da doença.

Pacientes do Departamento Ambulatorial Pulmonar do Hospital Severance, em Seul, na Coreia do Sul, participaram do ensaio clínico. Esses indivíduos foram atendidos entre agosto de 2020 e março de 2021. Os cientistas coletaram amostras de escarro e fezes de 10 pacientes com DP-MNT. A coleta ocorreu antes da antibioticoterapia ou pelo menos um ano após o término do tratamento. Além disso, 10 voluntários saudáveis foram selecionados para extração do DNA. “Dos 10 pacientes com a doença, quatro tiveram infecção por Mycobacterium avium, dois por Mycobacterium abscessus, dois por Mycobacterium intracelulare e um por Mycobacterium massiliense. Ademais, um outro apresentou infecção mista”, relatam os autores. Nove pacientes não tinham recebido tratamento prévio com MNT no momento da inscrição, enquanto um tinha histórico de tratamento pelo menos um ano antes do início dos estudos.

Também foram coletadas amostras de escarro e fezes de todos os participantes do estudo para avaliar a diversidade alfa e beta da microbiota pulmonar e intestinal.  Na alfa, a diversidade foi confirmada com base em curvas de rarefação, enquanto a beta foi investigada com base nas distâncias UniFrac (métrica de fração única) ponderadas e não ponderadas via análise de coordenadas principais (PCoA). “Observou-se uma diferença considerável na diversidade alfa e beta nas amostras de escarro entre os grupos DP-MNT e saudáveis”, descrevem os autores. Nas amostras fecais, a diversidade alfa foi significativamente menor nos grupos DP-MNT, com riqueza e uniformidade das espécies consideravelmente diferentes entre os grupos. Na beta, as amostras diferiram significativamente entre os grupos.

Composição 

Além disso, os resultados revelaram que a composição da microbiota pulmonar difere entre pacientes com a doença classificados de acordo com o IMC. Os microrganismos anaeróbios (por exemplo, Prevotella e Veillonella), em que a maior prevalência pode ser atribuída às micobactérias que induzem hipóxia tecidual local, foram mais abundantes no grupo DP-MNT. Surpreendentemente, o excesso de Haemophilus, Neisseria e Burkholderiales foi maior em pacientes DP-MNT com IMC baixo, indicando que este pode ser um fator considerável que influencia a microbiota. Em relação às amostras fecais, pacientes com a doença apresentaram menor diversidade com maior abundância de BacteroidesBlautiaClostridium spp. e Tyzzerella nexilis.

“No entanto, o achado mais importante foi uma diferença na composição da microbiota intestinal em pacientes com DP-MNT, com níveis aumentados de Lachnoclostridium e Streptobacillus no grupo com baixo IMC. Essa descoberta sugere, por consequência, que estar abaixo do peso pode ser um fator clínico que contribui para a disbiose intestinal. Os pesquisadores relatam, ainda, que as variações da microbiota intestinal estão correlacionadas com o aumento ou esgotamento da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Como consequência, pode ocorrer um aumento na expressão de proteínas de junção estreita no epitélio do cólon para aumentar a resistência da barreira intestinal, reduzir a permeabilidade da mucosa e inibir citocinas inflamatórias. De acordo com os autores, com base nessas descobertas é plausível que as intervenções baseadas no intestino que reparam a disbiose da microbiota tenham um impacto positivo na gestão da DP-MNT.

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