Os microrganismos produzem inúmeros metabólitos

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Transplante de microbiota para diminuir a disbiose

Escrito por: Fernanda Ortiz

Os trilhões de microrganismos que colonizam o trato gastrointestinal afetam significativamente a homeostase e a saúde. Isso ocorre porque esses microrganismos produzem inúmeros metabólitos que influenciam a barreira intestinal, assim como o equilíbrio orgânico. Dessa forma, beneficiam o metabolismo, a imunidade, a nutrição e as funções anti-inflamatórias e antitumorais, dentre outros fatores. Entretanto, quando há um desequilíbrio entre esses microrganismos comensais e patogênicos as funções normais são prejudicadas e pode ocorrer uma disbiose intestinal. Foco de inúmeros estudos, o transplante de microbiota fecal (TMF) se apresenta como uma nova modalidade para remodelar o microbioma intestinal.

De acordo com os autores do artigo de revisão ‘The gut microbiome dysbiosis and regulation by fecal microbiota transplantation: umbrella review’, a disbiose de 479 microrganismos intestinais está associada a 117 doenças gastrointestinais e extraintestinais. “Apesar de múltiplos mecanismos interagirem para causar doenças, em muitas delas a disbiose é uma etiologia importante”, argumentam. Para exemplificar, os cientistas citam o câncer colorretal, a doença de Crohn, a colite ulcerativa e a doença de Parkinson, entre outras. Dentre os micróbios intestinais que mais apresentam disbiose, o estudo cita Firmicutes (filo), Bacteroides (gênero), Bacteroidetes (filo) e Prevotella (gênero). Esses microrganismos foram associados, respectivamente, a 34, 30, 29 e 27 enfermidades.

Dessa forma, o transplante de microbiota fecal tem como objetivo restaurar a diversidade e a função do microbioma. Essa modalidade de tratamento é feita através da transferência de fezes de doadores saudáveis – que contêm viromas e microbiomas. Todo esse ecossistema microbiano é rico em espécies que aumentam a diversidade, melhoram as redes microbianas e a microbiota central. “Por isso, a terapêutica tem sido amplamente estudada para pesquisas e uso clínico”, acentuam os autores.

Abrangência

Nesta revisão abrangente, os autores identificaram meta-análises de alta qualidade avaliando o transplante de microbiota fecal para 13 doenças. Por exemplo, a evidência foi de qualidade geral alta ou moderada para colite ulcerativa; enquanto foi moderada a baixa ou muito baixa para doença de Crohn e muito baixa para bolsite crônica (processo inflamatório inespecífico).

Em contrapartida, evidências de baixa qualidade apoiaram o transplante para infecção por Clostridium difficile e síndrome do intestino irritável relacionadas à doença inflamatória intestinal (DII), assim como para a descolonização de bactérias resistentes a antibióticos. “Além disso, apesar de evidências muito baixas, o transplante pode ajudar na obesidade e na síndrome metabólica”, sugerem os autores.

Mais evidências

Apesar dos benefícios e resultados apresentados na meta-análise, ainda são necessárias evidências mais robustas para fortalecer as recomendações. Para os autores, alguns resultados analisados basearam-se em estudos observacionais ou pequenas amostras, introduzindo riscos de enviesamento e heterogeneidade – o que limita a qualidade da evidência. Além disso, outros caminhos permanecem inexplorados como, por exemplo, otimizar os parâmetros do transplante fecal. “Primordialmente, isso inclui preparação, via de entrega, tipo de doador, dosagem e preparo comensal por meio de padronização e inovação”, elencam.

Portanto, pesquisas futuras devem explorar a causalidade das doenças intestinais, medir a disbiose, identificar os mecanismos da doença e os efeitos moleculares do procedimento. Para os autores, melhorar a padronização, inovação e entrega do FMT aumentará sua eficácia, segurança e indicações. No entanto, ainda são necessários estudos grandes e rigorosos para apoiar a expansão do uso.

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