O câncer da mama é o segundo tipo de câncer mais comum nas mulheres. Com uma incidência notificada de 19,3 milhões de casos em todo o mundo, a doença causa 10 milhões de mortes. Além de tratamento, um problema potencialmente debilitante que aflige após a mastectomia é a dor crônica. A condição afeta 25% a 60% das pacientes, impactando gravemente na qualidade de vida e frequentemente relacionada com a depressão. Preocupado com essa parcela da população, um grupo de pesquisadores brasileiros utilizou uma técnica anestésica durante a mastectomia que reduz a incidência de dor crônica e depressão após a cirurgia.
A estratégia do estudo ‘Benefits in radical mastectomy protocol: a randomized trial evaluating the use of regional anestesia’ consiste em associar, durante a cirurgia, a anestesia geral ao bloqueio do plano serrátil anterior (SAM) e do bloqueio do nervo peitoral tipo I (PECS I). No total, 49 pacientes foram randomizadas para o estudo. Destas, 25 receberam a anestesia geral associada ao protocolo SAM + PECS I e 24 participaram do protocolo de anestesia geral.
A associação do bloqueio SAM + PECS I com anestesia geral reduziu o consumo intraoperatório de fentanil, o uso de morfina e os escores da escala visual analógica de dor na sala de recuperação pós-anestésica e 24 horas depois da cirurgia de mastectomia. Além disso, o protocolo anestésico diminuiu os efeitos colaterais e a sedação 24 horas após a cirurgia, em comparação com as pacientes submetidas apenas à anestesia geral.
Para investigar o desenvolvimento da dor neuropática crônica 12 meses após a mastectomia, o grupo continuou o trabalho que resultou no artigo ‘One year follow-up on a randomized study investigating serratus anterior muscle and pectoral nerves type I block to reduced neuropathic pain descriptors after mastectomy’. Os resultados mostraram que 12 meses após a cirurgia de mastectomia, as pacientes que receberam anestesia geral com bloqueios SAM e PECS 1 apresentaram redução nos descritores de dor crônica: dormência e hipoestesia e na incidência de dores crônicas em outras regiões do corpo.
“Além disso, houve redução dos sintomas depressivos no grupo que recebeu a anestesia geral com bloqueios SAM e PECS I”, afirma a pesquisadora Raquel Martinez, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).