O paracetamol é o principal analgésico não opioide recomendado para dores leves pela escada analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, os altos níveis utilizados do medicamento estão associados à hepatotoxicidade e nefrotoxicidade causada pelo acúmulo de metabólitos tóxicos.
Dentro deste contexto, pesquisadores do Instituto de Física (IFSC) e Instituto de Química de São Carlos (IQSC), ambos da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram um sensor flexível, simples e de baixo custo que rastreia a saliva e monitora a ação do paracetamol em tempo real, permitindo correções na dosagem.
O dispositivo foi fabricado com a mesma técnica simples usada em estampagem de camisetas, chamada de serigrafia. Sobre uma tela com o desenho dos sensores é colocada uma porção de pasta de carbono condutor e, embaixo dela, ficam folhas de transparência de poliéster compradas em papelaria. Então, a pasta é dispersada com um rodo.
Com a técnica, após a administração de uma única dose oral do analgésico, os eletrodos localizados na superfície do dispositivo conseguem detectá-lo de forma rápida e não invasiva, em uma pequena amostra de saliva. Isso porque o paracetamol contido no fluido corporal é oxidado pelos sensores, produzindo uma corrente elétrica. “Outra vantagem é o dispositivo ser portátil e possui sensores significativamente baratos, com valor inferior ao de outros instrumentos usados para análise que, muitas vezes, são volumosos e requerem pessoal qualificado”, afirma o químico Paulo Augusto Raymundo Pereira, pesquisador do IFSC-USP e coordenador da pesquisa.
Eficácia comprovada
Os resultados do estudo demonstram o grande potencial de uma estratégia simples. De acordo com o pesquisador, os dispositivos eletroquímicos de baixo custo se consolidam como alternativa atraente para rastreamento de medicamentos devido às suas características analíticas, como resposta rápida, capacidade de miniaturização, portabilidade e simplicidade. “Além disso, apresentam facilidade de uso, versatilidade, custo de instrumentação relativamente baixo e possibilidade de obtenção de análises in loco e em tempo real”, enumera.
A metodologia desenvolvida também poderá ajudar a diminuir a contaminação de água, pois, o que o organismo não metaboliza é excretado pela urina. “As estações de tratamento de água e esgoto não possuem ainda um método 100% eficiente para a remoção dos fármacos”, detalha o pesquisador.
O protótipo do sensor está finalizado com cabos, fios e conectores com disponibilidade para a transferência de tecnologia para empresas interessadas em produzir em larga escala e comercializar. Os próximos passos da pesquisa incluem análises com um número maior de voluntários e comparação dos dados obtidos com uma técnica padrão-ouro. O artigo ‘On-site therapeutic drug monitoring of paracetamol analgesic in non-invasively collected saliva for personalized medicine‘ foi publicado em 2023 na revista Small: nano micro.