Brincar é fundamental para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social das crianças, além de ser um direito garantido por lei, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em tempos de intensa digitalização, as telas são uma forte concorrente das brincadeiras infantis. Isso ocorre porque as crianças possuem muito acesso liberado a videogames, celulares, tabletes e televisores, deixando de lado o velho e bom ato de brincar com amigos da mesma idade.
De acordo com a psicóloga Rita Lous, gerente do setor de Voluntariado do Hospital Pequeno Príncipe, as brincadeiras tradicionais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e motor, bem como para a sociabilidade, que não é plenamente substituída por interações on-line. “A interação presencial proporciona experiências valiosas que a tela não pode oferecer, como aprender a lidar com emoções e frustrações diretamente”, define. Para a especialista, o maior problema é o excesso de uso e a falta de orientação sobre a tela, que se torna concorrente das brincadeiras infantis.
“Cada atividade tem seu tempo adequado no desenvolvimento infantil. Leitura e jogos didáticos na tela podem ser benéficos, desde que usados com moderação. O problema surge com o excesso, que pode expor a criança a conteúdos inadequados e causar conflitos”, explica. Portanto, encontrar um equilíbrio entre o tempo de tela e as atividades lúdicas se torna crucial. Nesse contexto, os pais e responsáveis desempenham um papel fundamental ao definirem esse tempo de diversão para as crianças, assim como para incentivá-las a se envolverem.
Novas descobertas
Para despertar o interesse das crianças, a psicóloga sugere atividades com argila, tinta e massinha de modelar, bem como jogos de tabuleiro e outros materiais que incentivem criatividade, planejamento e organização. “Importante lembrar que a escolha do passatempo deve acompanhar a faixa etária”, acentua. Além disso, é necessário envolver as crianças em todo o processo das brincadeiras, desde a escolha e preparação dos materiais até a execução e organização.
Com a tecnologia muito presente na rotina, é preciso buscar maneiras de integrá-la de forma complementar e estratégica, por exemplo, usar a internet para buscar tutoriais ou receitas de brincadeiras. “É possível encontrar uma receita de massinha na internet e assistir com a criança. Assim, ela vai aprender as etapas da confecção da massinha, quais ingredientes são necessários, quais são as texturas dos materiais e como acondicionar, entre outros detalhes”, ensina a psicóloga.
Opções de brincadeiras
Os jogos de tabuleiro, como os clássicos dominó, xadrez e dama, assim como os jogos de cartas, são ótimas maneiras de reunir a família. Além disso, esses jogos ajudam a ensinar habilidades importantes, como paciência e estratégia, assim como lidar com a vitória e a derrota. Já as brincadeiras ao ar livre, entre as quais amarelinha, pular corda e pega-pega, são mencionadas como formas de interação e atividade física.
Desenhar e pintar são atividades artísticas que têm poder de relaxamento e desconexão das preocupações, sendo benéficas tanto para crianças quanto para adultos. A caça ao tesouro também é bem interessante, pois envolve planejamento, produção de pistas e interação. “Isso não só diverte, mas também educa e envolve a criança em um processo criativo e colaborativo”, afirma a psicóloga.
Brincar e prevenir a violência
Em março deste ano, foi sancionada a Lei 14.826 que institui a parentalidade positiva e o direito de brincar como estratégias para prevenção à violência contra crianças. Ou seja, é um dever do Estado, da família e da sociedade prevenir as violações de direitos e garantir às crianças um crescimento saudável de forma integral.