A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal funcional caracterizado por dor abdominal e alterações no hábito intestinal. Por seu fator crônico, reduz a qualidade de vida e a produtividade no trabalho ou na escola. Além disso, a SII aumenta os custos de saúde e o uso de recursos médicos. Com base na Escala de Bristol (BSFS, na sigla em inglês), os subtipos são descritos como SII predominantemente constipada (SII-C), SII predominantemente diarreica (SII-D), SII de tipo misto (SII-M) e SII não classificada (SII-U).
Para identificar os mecanismos microbianos subjacentes à condição, pesquisadores russos analisaram a composição do microbioma das fezes de pacientes com os subtipos SII-C e SII-M, em comparação a grupos saudáveis. Durante o estudo foram sequenciadas 44 amostras fecais, 12 delas do grupo de pacientes saudáveis e 32 de pacientes com diferentes tipos de SII. De acordo com os autores, as bactérias foram identificadas por nível de espécie para cada paciente.
Além disso, foi realizada uma análise comparativa do microbioma para identificar marcadores bacterianos característicos dos subtipos de SII, sendo 14 amostras de SII-C e 18 de SII-M. “Diferenças na composição do microbioma foram encontradas entre os dois subgrupos de SII e o grupo saudável. Essas diferenças consistiram em aumento da diversidade alfa nos pacientes com SII-C e SII-M, em comparação ao grupo saudável”, relatam os autores.
Diferenças no microbioma
As diferenças no microbioma foram caracterizadas tanto no nível filo quanto de espécie. “No nível filo, observamos uma proporção aumentada de Firmicutes/Bacteroidetes (principais filos de bactérias no trato gastrointestinal), uma abundância aumentada de Actinobacteria (bactérias gram-positivas) e a presença de Verrucomicrobiota em ambos os subtipos de SII”, comentam os autores. No nível espécie foram identificadas mudanças significativas do microbioma que eram amplamente consistentes em SII-C e SII-M, corroborando achados anteriores da literatura.
O estudo também foi o primeiro a mostrar a associação de outras bactérias em ambos os subtipos analisados de SII. Entre elas estão a Turicibacter sanguinis, que pode ser importante para o metabolismo de lipídeos e esteroides do hospedeiro. Já os membros da família Erysipelotrichaceae UCG-003 têm sido associados a processos inflamatórios no intestino.
Considerações
Mesmo que o microbioma específico para SII não tenha sido claramente identificado no estudo, os achados mostram a relevância clínica potencial do monitoramento do microbioma em pacientes com SII. “Uma compreensão profunda do papel de microrganismos individuais no desenvolvimento da SII nos aproximará do diagnóstico precoce dessa patologia gastrointestinal, bem como do desenvolvimento de terapia individualizada com base na correção de desequilíbrios do microbioma”, concluem os autores. Ainda que o estudo tenha limitações, especialmente pelo tamanho da amostra, os dados descritos fornecerão uma base para pesquisas futuras. O artigo ‘Fecal microbiota characteristics in constipation-predominant and mixed-type irritable bowel syndrome’ foi publicado em julho de 2024 no periódico MDPI.