Infertilidade gera grande impacto

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Infertilidade masculina gera impacto na saúde

Escrito por: Fernanda Ortiz

Ao afetar 1 em cada 6 casais no mundo, a infertilidade gera grande impacto na saúde física e emocional, no bem-estar, na vida social e financeira. Afinal, a infertilidade masculina impossibilita a capacidade do homem em engravidar uma mulher fértil, mesmo após 12 meses de suspensão do método contraceptivo. Responsável isoladamente por cerca de 20% a 30% dos casos, o problema pode chegar a 50% quando associado a fatores femininos.

As principais causas da infertilidade masculina são anomalias urogenitais e genéticas, infecções do trato genital, distúrbios endócrinos e fatores imunológicos. Entretanto, alguns pacientes apresentam infertilidade de origem desconhecida. Para aprofundar o conhecimento sobre esse tipo de manifestação, o estudo ‘New insights on sperm function in male infertility of unknown origin: a multimodal approach’ revelou detalhes moleculares e metabólicos que não são rotineiramente avaliados, mas podem ser determinantes para um melhor diagnóstico e eficácia dos tratamentos.

Para o estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Coimbra, em Portugal, foram coletadas 1.114 amostras de sêmen de homens que procuravam tratamento de infertilidade na Unidade de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Entre julho de 2018 e julho de 2022, foram levantados dados clínicos dos casais, análise seminal/hormonal e critérios de elegibilidade rigorosos. As amostras foram categorizadas em 3 grupos: controle, infertilidade masculina idiopática (ID) e infertilidade masculina inexplicável (UMI), ambos subtipos de origem desconhecida.

As amostras de espermatozoides foram avaliadas funcionalmente e mitocondrialmente, utilizando análise proteômica. Os resultados das técnicas de reprodução assistida foram avaliados sempre que disponíveis. “De acordo com nossos resultados, os pacientes com ID apresentaram o pior perfil funcional espermático, enquanto os pacientes com UMI foram semelhantes aos controles”, relatam os autores.

Além disso, a análise proteômica revelou 145 proteínas expressas diferencialmente, oito delas alteradas em amostras ID e UMI. Assim, evidenciando maior chance de estar relacionado com a diferente etiologia destes tipos de infertilidade.

Parâmetros rotineiros, ou seja, motilidade, viabilidade e morfologia, foram utilizados para avaliar a funcionalidade do esperma. “Nestes parâmetros, os valores mais baixos no grupo ID não foram surpreendentes, pois são características típicas de pacientes com esse subtipo”, destacam os autores.  Neste subtipo, a qualidade seminal pode variar de oligo a asteno, teratozoospérmico ou mesmo apresentar as três anomalias (oligoastenoteratozoospérmico), ao contrário de pacientes com UMI que apresentam análise seminal normal semelhante ao do grupo controle.

Resultados

Entre os achados, os estudiosos avaliaram que a acrosina (ACRO) e a proteína 4 associada à membrana do acrossomo espermático (SACA4) foram reguladas negativamente em pacientes com ID. Enquanto que nos pacientes com UMI a regulação negativa foi observada na subunidade beta-2 da laminina (LAMB2), na manose 6-fosfato isomerase (MPI), no tipo hepático 6-fosfofrutoquinase dependente de ATP (PFKAL), na proteína 10 contendo o domínio STAR (STA10), na serotransferrina (TRFE) e na exportina-2 (XPO2).

Utilizando análise aleatória, a SACA4 e a LAMB2 foram identificadas como as proteínas espermáticas com maior chance de distinguir pacientes com ID e UMI, em que sua função e variação de expressão estavam de acordo com os resultados funcionais. Não foram observadas alterações em termos de estilo de vida e fatores psicológicos entre os três grupos.

“Estas descobertas podem ajudar a validar novos biomarcadores para infertilidade masculina de origem desconhecida (ID e UMI) que, no futuro, podem ser usados ​​para melhorar diagnósticos e tratamentos”, avaliam os autores. Dessa forma, será possível auxiliar mais casais que vivem o drama da infertilidade, que gera grande impacto na vida social e financeira.

Outras descobertas 

Além disso, o estudo evidenciou que a proteína reguladora de transcrição BACH2 foi o fator de transcrição mais enriquecido associado à maioria das proteínas diferencialmente expressas entre pacientes com DI e UMI. “Sabe-se que o BACH2 induz a apoptose em resposta ao estresse oxidativo quando ativado por fosforilação. Portanto, sugere-se que sua regulação negativa em pacientes com DI poderia ser um sinal de senescência espermática e espermatogênese disfuncional”, concluem os pesquisadores.

O artigo, publicado recentemente na revista Biomolecules, teve a participação de cientistas, médicos, embriologistas, psicólogos e bioestatísticos da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Faculdade de Medicina e Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

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