O colírio é um tipo de medicamento que não deve ser utilizado sem prescrição médica. O uso indiscriminado desse tipo de remédio pode mascarar doenças, possibilitando a evolução silenciosa de alterações nos olhos. Além disso, quando o colírio contém corticoide a dosagem diária deve ser retirada lentamente para não causar efeito rebote, ou seja, a reativação da doença que volta a se manifestar de forma mais agressiva.
Por outro lado, o uso de colírios com corticoide por um período prolongado pode causar catarata e glaucoma, duas importantes causas de perda da visão. “Um levantamento nos prontuários de 370 pacientes do Instituto Penido Burnier mostra que 4 em cada 10 chegam aos consultórios usando colírios por conta própria”, afirma o médico oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do hospital, localizado em Campinas.
O colírio preferido da população que faz automedicação é o adstringente, que tem efeito vasoconstritor e deixa os olhos branquinhos. Entretanto, o problema está no fato de que muitos pacientes viciam neste colírio que, ao longo do tempo, pode causar hipertensão arterial. Ademais, o uso de colírios sem prescrição pode mascarar sintomas de doenças importantes, levando a uma evolução silenciosa.
Olhos vermelhos
Uma das causas da vermelhidão e do desconforto nos olhos, principalmente durante os dias mais quentes, é a conjuntivite. Essa inflamação atinge a conjuntiva, ou seja, a membrana transparente que reveste a pálpebra, assim como a esclera – parte branca do olho. Em geral, a conjuntivite causa desestabilização da lágrima e da córnea (lente externa do olho que se nutre do filme lacrimal). Portanto, é um fator de risco para olho seco evaporativo e a ceratite, que é uma inflamação da córnea.
Outro problema é o terçol, uma inflamação de duas pequenas glândulas localizadas na base dos cílios provocada pelo acúmulo de oleosidade da pele e proliferação de bactérias. A condição é mais frequente em adolescentes que têm acne e pessoas com blefarite (inflamação crônica das pálpebras). Além disso, mulheres que usam maquiagem de baixa qualidade, vencida ou que não retiram completamente o produto antes de dormir podem desenvolver terçol. Quando a inflamação ocorre nas glândulas da pálpebra que produzem a camada oleosa da lágrima forma-se o calázio, uma bolinha dura na pálpebra.
Tratamentos orientados
Nos casos de conjuntivite, nenhum colírio deve ser usado sem prescrição e acompanhamento médico. O tratamento varia conforme a gravidade e o tipo, mas, geralmente dura de sete dias a duas semanas. “A conjuntivite viral tem uma secreção viscosa, sendo tratada, quando branda, com colírio anti-inflamatório não hormonal que é isento de corticoide. As inflamações graves são tratadas com anti-inflamatórios hormonais”, explica o oftalmologista.
Na conjuntivite bacteriana o paciente pode acordar com as pálpebras grudadas, secreção amarelada e purulenta. Neste caso, é indicado um colírio antibiótico que, geralmente, deve ser instilado no olho por sete dias. Já a conjuntivite alérgica tem como principais características a secreção aquosa e coceira intensa – que aumenta a vermelhidão quanto mais os olhos são coçados. Em síntese, o tratamento é à base de colírio antialérgico nos casos brandos, e corticoide nos severos.
A conjuntivite tóxica decorrente do contato da mucosa ocular com algum produto de higiene pessoal geralmente não requer uso de colírio, uma vez que desaparece espontaneamente. Neste caso, para aliviar o desconforto, a principal recomendação é lavar abundantemente os olhos com água. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, pessoas mais sensíveis devem fazer compressas frias com água ou soro fisiológico. “Caso evolua para conjuntivite alérgica, o tratamento é feito com colírio anti-histamínico sempre com supervisão médica”, alerta.
Ao primeiro sinal de terçol ou de calázio, é recomendado aplicar compressas mornas feitas com gaze e soro fisiológico, durante quinze minutos, quatro vezes ao dia. Caso não tenha melhora em dois dias, é necessário consultar um oftalmologista.