A utilidade dos biomarcadores vocais para avaliação da saúde mental tem ganhado cada vez mais atenção porque são não invasivos. Além disso, são fáceis de obter em dispositivos de consumo, permitem monitoramento frequente ou contínuo e podem transportar informações ricas sobre saúde e bem-estar. Para aprofundar no tema, um grupo de pesquisadores de diferentes países introduziu um novo sistema de pontuação vocal projetado para fornecer meios de rastreamento de aptidão mental para usuários em ambientes do mundo real.
O interesse pelos biomarcadores vocais pode ser explicado por diversas características atrativas. Por exemplo, uma aplicação para smartphone poderia analisar mudanças nos padrões de fala ao longo do tempo para detectar sinais precoces de estados depressivos. “Além disso, dispositivos pessoais inteligentes equipados com microfones e capacidades de processamento de sinais, como telefones e televisores, oferecem meios convenientes e escaláveis de alcançar grandes populações”, pontuam os pesquisadores.
O trabalho consistiu em um estudo de coorte prospectivo com 104 pacientes psiquiátricos ambulatoriais. O foco era demonstrar que as ferramentas digitais de saúde podem manter um forte envolvimento e retenção dos utilizadores ultrapassando barreiras típicas, tais como atitudes negativas em relação a aplicativos e wearables, falta de concordância de medição com padrões ouro e falta de provas sobre a eficácia.
Características vocais
Os pesquisadores usaram o algoritmo de pontuação Mental Fitness Vocal Biomarker (MFVB), incorporado a um aplicativo de registro de voz em celulares, para detectar variações no risco de gravidade elevada de sintomas relacionados à saúde mental. O método consiste na análise de gravações de voz espontâneas de 30 segundos para identificar padrões vocais específicos previamente associados à avaliação da saúde mental.
A resposta é automaticamente transcrita e armazenada em uma seção de registro no diário, enquanto o áudio gravado é usado para análise de biomarcadores vocais. De acordo com os autores, a pontuação MFVB foi derivada de oito características vocais. Selecionadas com base em revisão de literatura, nervosismo ao falar, leve instabilidade na voz, variabilidade de tom, variabilidade de energia, espaço vocálico, duração da fonação, velocidade de fala e duração da pausa foram considerados relevantes para a saúde mental.
Os autores explicam que indivíduos deprimidos geralmente apresentam uma comunicação mais monótona e pode haver menos inflexão na voz, fala mais lenta e com menos energia, características que podem ser reconhecidas nas gravações. “Como resultados, entendemos que o MFVB demonstrou capacidade de estratificar indivíduos de acordo com o risco de elevada gravidade dos sintomas de saúde mental”, explicam. Assim, pode ser uma ferramenta promissora para rastreamento objetivo da saúde mental em condições do mundo real, com potencial para ser um complemento econômico, escalonável e que preserva a privacidade das avaliações psiquiátricas tradicionais.
Além disso, o retorno dos usuários sugere que os biomarcadores vocais podem oferecer dados personalizados e apoiar a terapia clínica e outras atividades benéficas associadas a melhores riscos e resultados para a saúde mental. O artigo ‘Validating the efficacy and value proposition of mental fitness vocal biomarkers in a psychiatric population: prospective cohort study’ foi publicado em 2024 no periódico Frontiers in Psychiatry.