Os distúrbios hipertensivos na gestação estão entre as complicações mais comuns na gestação, afetando entre 5% e 10% de todas as grávidas no mundo. Essas condições podem levar a uma série de complicações graves e debilitantes que afetam tanto a mãe quanto o feto. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os distúrbios hipertensivos da gravidez são responsáveis por 14% das mortes maternas em países desenvolvidos e aumenta em até 22% no Caribe e em partes da América Latina, tornando-se a principal causa de mortalidade materna.
Apesar da ocorrência e das implicações dos distúrbios hipertensivos na gestação, ainda não há evidências sobre os fundamentos moleculares da fisiopatologia, e a área que ganhou destaque com relação a essa questão é a microbiota. Embora existam vários nichos de microbioma no corpo, a extremidade distal do intestino abriga o maior deles e impacta em muitos sistemas diferentes do corpo, incluindo o sistema nervoso central, o sistema imunológico e o sistema reprodutivo.
De acordo com pesquisadores da Irlanda, embora o papel do microbioma em distúrbios hipertensivos, incluindo a pré-eclâmpsia, não tenha sido totalmente elucidado, alguns estudos indicaram que vários dos sintomas estão ligados a um microbioma intestinal alterado. “Fizemos uma revisão de literatura sobre a pré-eclâmpsia e o microbioma para resumir o conhecimento atual e verificar se a microbiota impulsiona os sintomas da pré-eclâmpsia ou se é uma consequência dessa condição”, afirmam.
Alterações perceptíveis
Durante a gravidez ocorrem mudanças significativas no corpo feminino, tanto para permitir o rápido crescimento do feto quanto para dar suporte e nutrir. E o microbioma intestinal materno é um dos sistemas que se adapta à fase da gestação. Na revisão científica, os pesquisadores ressaltam que, ao longo da gravidez, a composição da microbiota intestinal é influenciada pelo sistema endócrino, pelo sistema imunológico e pelas mudanças metabólicas. “Embora hormônios como estrogênio e progesterona não tenham demonstrado alterar diretamente o microbioma, trabalhos anteriores comprovaram que hormônios podem influenciar o crescimento microbiano e que esses microrganismos respondem a eles adequadamente”, acentuam.
Os autores acrescentam que numerosos estudos encontraram mudanças drásticas e significativas no microbioma intestinal de mulheres com pré-eclâmpsia em comparação com mulheres com gestações saudáveis. Um estudo anterior, publicado em 2021, encontrou reduções significativas nos gêneros Varibaculum, Prevotella, Lactobacillus e Porphyromonas, quando comparado a gestações normotensas, juntamente com um aumento em Bacteroidetes.
A literatura destaca, ainda, o potencial de uma intervenção direcionada ao microbioma, como mudanças na dieta ou o uso de prebióticos e probióticos para reduzir o impacto de alguns aspectos desses distúrbios. Os autores indicam que há um otimismo cauteloso sobre as consequências das intervenções baseadas em microbioma, com uma dieta direcionada rica em fibras, frutas e vegetais, juntamente com outros nutrientes essenciais. Além disso, a administração de probióticos, como Bifidobacterium, bem como espécies anti-inflamatórias de Lactobacillus podem ser benéficas na redução de sintomas.
“Isso pode potencialmente melhorar a condição geral da pré-eclâmpsia e, idealmente, fornecer um ambiente melhor para o feto em desenvolvimento”, pontuam os pesquisadores. No entanto, mais pesquisas devem ser desenvolvidas para desvendar completamente o potencial total dessas intervenções em um ambiente clínico. O estudo ‘An altered gut microbiome in pre-eclampsia: cause or consequence’ foi publicado em 2024 no Frontiers in Cellular and Infection Microbiology .