Caracterizada pela presença anormal de tecido glandular endometrial – o mesmo que reveste as camadas musculares do útero – a adenomiose é uma doença frequente, mas ainda pouco diagnosticada. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), a enfermidade afeta aproximadamente uma a cada 10 mulheres globalmente. Apesar de benigna, a apresentação clínica é variável, assim como seu impacto sobre a qualidade de vida. Além disso, a adenomiose pode dificultar a gravidez e contribuir para a infertilidade e as perdas gestacionais.
Assintomática em cerca de 35% dos casos, nos demais pode causar cólicas menstruais intensas, sangramentos vaginais irregulares e algumas vezes abundantes, desconforto durante a relação sexual e inchaço abdominal. A adenomiose geralmente acomete as mulheres com idade entre 40 e 50 anos, embora possa ser diagnosticada em pacientes mais jovens com quadro de sangramento uterino anormal e dismenorreia. Evidências recentes correlacionam a existência da doença com infertilidade e resultados negativos quando se emprega técnicas de reprodução assistida. Portanto, a adenomiose pode dificultar a gravidez.
De acordo com o médico ginecologista Thiers Soares, do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o risco está associado a possíveis alterações na estrutura do útero que dificultam a implantação do embrião. “Isso pode ser causado pelo aumento da inflamação uterina, tornando o ambiente menos propício para a gravidez e aumentando o risco de complicações”, descreve.
Embora nem todas as mulheres com adenomiose enfrentem dificuldades para engravidar, é importante avaliar cada caso individualmente para desenvolver estratégias de tratamento pré-concepção. A partir do histórico clínico da paciente e de resultados de exames de imagem, preferencialmente ressonância magnética, o especialista poderá avaliar a condição do útero, identificando a adenomiose e suas possíveis alterações. “Com base nessa avaliação detalhada, estratégias de tratamento personalizadas podem ser desenvolvidas para aumentar as chances de gravidez bem-sucedida”, avalia o ginecologista. Confirmada a gestação, o acompanhamento médico e o cuidado pré-natal são essenciais para garantir a saúde da mãe e do feto.
Tratamento
Para aliviar sintomas e otimizar as condições uterinas, as opções terapêuticas incluem a administração de medicamentos, assim como a indicação de procedimentos cirúrgicos. “Com rápida recuperação e menor impacto no sistema reprodutivo, as opções cirúrgicas minimamente invasivas visam preservar a fertilidade e melhorar a qualidade de vida das pacientes”, avalia o especialista.
Procedimentos como cirurgia robótica, laparoscopia, histeroscopia e radiofrequência podem ser indicados para ressecar adenomioma ou adenomiose difusa, dependendo da gravidade da condição. O médico ressalta que a histerectomia (remoção do útero) é reservada para casos mais graves, quando os sintomas são debilitantes e outras opções forem descartadas. Além disso, se a histerectomia for recomendada para uma mulher que deseja engravidar é fundamental buscar uma segunda opinião.