Alguns estudos recentes indicam que as bactérias probióticas inativadas pelo calor podem ser uma estratégia segura e viável para o manejo de diferentes doenças, principalmente distúrbios gastrointestinais. Os probióticos inativados por calor também parecem ter um papel no manejo de doenças alérgicas dermatológicas ou respiratórias. Estas pesquisas têm como foco os possíveis mecanismos de ação envolvidos dessas bactérias inativadas em comparação com cepas vivas.
De acordo com dados revisados por pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, as bactérias inativadas pelo calor ou suas frações ou componentes purificados têm efeitos probióticos fundamentais, com vantagens em relação aos probióticos vivos – principalmente pelo perfil de segurança. “Dessa forma, poderiam ser estratégias interessantes para o gerenciamento de condições prevalentes comuns em uma ampla variedade de características dos pacientes”, afirmam os autores.
No nível clínico, atualmente há um interesse crescente no uso de preparações inativadas pelo calor de diferentes cepas probióticas. Dentre elas estão as bactérias do ácido lático e Bifidobacterium no manejo de uma variedade de doenças, principalmente intestinais. Além disso, são avaliadas para outras enfermidades, por exemplo, como suporte na terapia com Helicobacter, doenças respiratórias alérgicas ou doenças tópicas.
Combinação
Os autores relatam no artigo que dispositivos médicos contendo diferentes cepas tindalizadas (método de esterilização por vapor de água) vêm sendo usados em combinação com protetores da mucosa. Por exemplo, xiloglucano ou tanato de gelatina mais cepas de L. reuteri e B. breve tindalizadas estão sendo recentemente comercializados para o tratamento de cólicas em crianças e adultos.
Enquanto isso, gelatina tanato mais Lactobacillus acidophilus tindalizado, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus casei, Lactobacillus rhamnosus, Bifidobacterium bifidum e Streptococcus thermophilus têm sido usados para o tratamento da diarreia e prevenção da disbiose intestinal associada à diarreia. “Nesses produtos, a sinergia entre protetores da mucosa e cepas probióticas é buscada em termos de imunomodulação, integridade da barreira celular e competição contra patógenos”, afirmam os autores.
Métodos
Diferentes métodos de inativação podem afetar os componentes estruturais da célula de forma diferente e influenciar suas atividades biológicas. “Embora a inativação de probióticos possa ser alcançada por diferentes métodos, o tratamento térmico é o método de escolha para a inativação de cepas probióticas na maioria dos casos”, informam. Dentre as outras opções estão calor, produtos químicos (por exemplo, formalina), raios gama ou ultravioleta e sonicação (procedimento que usa energia de ondas sonoras).
“Conforme revisado neste artigo, após o tratamento térmico as bactérias probióticas cultivadas industrialmente, incluindo extratos bacterianos e sobrenadantes, na maioria dos casos, mantêm suas principais propriedades probióticas no nível intestinal”, acentuam os autores. Dessa forma, permitem o desenvolvimento de preparações mais seguras com propriedades farmacêuticas mais ideais – por exemplo, longa vida útil.
Desafios da tindalização
Os autores citam um processo de tindalização modificado que foi usado para produzir bactérias cultivadas industrialmente e tratadas termicamente para diferentes usos. “Na maioria dos casos, o produto tindalizado contém frações celulares e sobrenadantes, tirando assim proveito de ambas as estruturas celulares e fatores bacterianos excretados”, ressaltam. Entretanto, mais estudos são necessários para avaliar a influência do processo de tindalização nas células bacterianas, uma vez que a estrutura celular e os componentes celulares podem ser interrompidos/classificados em diferentes graus.
Nas cepas de L. rhamnosus, por exemplo, foi relatado que o processo de tindalização alterou a forma celular, com a presença de células encolhidas e fragmentadas. Além disso, a tindalização e outros tratamentos térmicos podem levar à ruptura das paredes celulares, com a liberação de conteúdos citoplasmáticos (lisados bacterianos), como DNA; e componentes da parede celular como peptideoglicanos e ácidos lipoteicoicos. “Os componentes bacterianos liberados desempenham papéis-chave de imunomodulação e podem ter um papel na inibição de patógenos”, enfatizam.
Entretanto, até o momento as pesquisas ainda são limitadas sobre os efeitos que os diferentes tipos de tratamento de inativação têm na estrutura e nos componentes bacterianos, assim como na manutenção das propriedades probióticas. De acordo com os autores, por causa disso o uso de produtos contendo bactérias inativadas pelo calor com benefícios para a saúde não está completamente generalizado. O artigo ‘Health benefits of heat-killed (tyndallized) probiotics: An overview’ foi publicado em 2019 no International Journal of Molecular Sciences.