Embora seja consenso que a microbiota vaginal equilibrada desempenhe um papel central na saúde e na reprodução femininas, seu impacto ainda é pouco compreendido. Por esse motivo, pesquisadores da Finlândia desenvolveram uma pesquisa concentrada principalmente em bactérias e fungos vaginais e seu papel nas doenças femininas. Além disso, revisaram uma série de evidências disponível na literatura científica sobre os probióticos e seu impacto na microbiota e na saúde vaginal.
A microbiota vaginal é formada por um microscópico ecossistema extremamente dinâmico. Moldado por alterações hormonais em cada fase da vida da mulher, desde a pré-puberdade até a pós-menopausa, esse ambiente é formado por várias bactérias, assim como vírus, arqueias, fungos e protozoários. De acordo com os autores do estudo ‘Healthy Vaginal Microbiota and Influence of Probiotics Across the Female Life Span’, normalmente, o microbioma vaginal é descrito no contexto de infecções vaginais ou disbiose.
“Esses problemas ocorrem, por exemplo, devido ao uso de antibióticos ou a mudanças no estilo de vida”, acentuam. As infecções e condições mais comuns incluem candidíase vulvovaginal e vaginose bacteriana, respectivamente. A vaginose, por sua vez, está associada a infecções do trato urinário, aumento do risco de infertilidade, inflamação das tubas uterinas (trompas de falópio), resultados adversos na gravidez e nascimento prematuro.
Além disso, a disbiose na microbiota vaginal está associada a infecções sexualmente transmissíveis, a exemplo do vírus da imunodeficiência humana (HIV), papilomavírus humano (HPV), herpes, clamídia e gonorreia. Por exemplo, a alta abundância de lactobacilos vaginais está fortemente associada à saúde. Entretanto, o conceito de saúde é variável, pois a disbiose vaginal pode ser assintomática. “Ademais, há muita variação entre grupos étnicos em termos de domínio das bactérias vaginais”, acrescentam os autores.
Probióticos
De acordo com os cientistas, os lactobacilos probióticos podem ser um meio seguro e natural para equilibrar e manter a microbiota vaginal saudável. “Muitas evidências têm mostrado o papel dos probióticos no apoio à saúde das mulheres ao longo da vida”, relatam. “Como os probióticos são comumente lactobacilos, seu papel na saúde vaginal tem sido extensivamente investigado, especialmente no contexto de infecções vaginais em mulheres na pré-menopausa”, afirmam.
De acordo com a revisão, evidências crescentes mostram que cepas probióticas específicas ou suas combinações elevam as contagens de lactobacilos vaginais em mulheres saudáveis ou mulheres com vaginose bacteriana e/ou candidíase vulvovaginal. “No entanto, há alta heterogeneidade entre os estudos devido à variação nos desenhos dos experimentos e nas cepas probióticas utilizadas”, relatam os autores.
Os probióticos podem provocar efeitos benéficos no trato vaginal de diversas maneiras, primordialmente pela produção de ácido láctico e peróxido de hidrogênio para diminuir o pH vaginal. Além disso, os probióticos podem produzir compostos antimicrobianos e estimular o sistema imunológico para ajudar a manter o equilíbrio bacteriano no trato vaginal. “Ao aderir ao epitélio vaginal, os probióticos conseguem inibir a fixação de bactérias patogênicas e utilizar os mesmos nutrientes que os patógenos para, assim, restringir seu crescimento”, explicam.
De acordo com os autores, os probióticos direcionados à saúde vaginal estão amplamente disponíveis como suplementos dietéticos ou cápsulas/supositórios vaginais. Nas aplicações vaginais, são aplicados diretamente no local de ação, enquanto os probióticos suplementados por via oral precisam primeiro passar pelo trato gastrointestinal antes de migrarem para o trato vaginal. “Curiosamente, a pesquisa mostra que ambas as rotas de aplicação são eficazes”, argumentam. O estudo foi publicado no periódico científico Frontiers Microbiology, em 2022 (doi.org/10.3389/fmicb.2022.819958).